LIVROS E OLHARES

"A BIOGRAFIA DE CARLOS MOORE SOBRE FELA KUTI" di ANTONELLA RITA ROSCILLI



"FELA. Esta vida puta", (ed. Nandyala) è a primeira biografia autorizada que conta em detalhes a incrível vida do cantor e multi-strumentista Fela Anikulapo Kuti (1938-1997), rei do Afrobeat e uma das figuras mais importantes da África Moderna. O autor do livro è Carlos Moore, um etnólogo cubano, radicado há anos em Salvador. Com prefácio de Gilberto Gil, o livro narra a vida conturbada do polêmico músico nigeriano, ferrenho defensor do panafricanismo. 


Se colocando frontalmente contra qualquer tipo de opressão, Fela fundou uma comuna autônoma à qual deu o nome de “República Kalakuta”, um ambiente onde se prezava pela liberdade e criatividade musical. O músico e ativista nigeriano influenciou o mundo lançando mais de 70 discos. 



Além da personalidade forte e marcante e da adoção de posturas políticas contra a opressão, Fela foi responsável por ter criado o sistema musical do Afrobeat que è uma mistura de Jazz, Highlife, Funk e cantos tradicionais da África Ocidental. 

Lançada originalmente em 1982, esta biografia sobre Fela Kuti foi resultado da experiência do cientista político cubano Carlos Moore, que durante a década de 70 sustentou amizade próxima com Fela. Hoje morando em Salvador, Moore conta que na época morava no Senegal e ia a Lagos três ou quatro vezes por ano visitar o amigo em sua República Kalakuta, na maior cidade nigeriana.

“Na primeira vez que fui à Nigéria, na primeira semana, fui num mercado e ouvi a música do Fela”, lembra o autor da biografia. “Fiquei louco e comecei a perguntar quem era o cara que tinha feito aquela música, onde eu poderia comprar. Me responderam que não, eu não podia, aquela música estava proibida. Aí eu me interessei ainda mais. Até que amigos uma noite me levaram lá para conhecê-lo”, conta. “Ele me disse, ‘bem vindo, Carlos, a essa merda que chamam de Nigéria’. Começamos a rir e foi amor à primeira vista. Isso foi em fevereiro de 74.”

Quase três décadas após sua primeira publicação na França e na Inglaterra, em 1982, "Fela. Esta vida puta" foi publicado na Nigéria (2010). O livro è sempre objeto de elogios pelo caráter inusitado e ousado da escrita. Com efeito, a vida de Fela é narrada na primeira pessoa pelo próprio Moore, mas usando as palavras de Fela, tiradas das entrevistas que Carlos realizou nos anos oitenta.





Doutor em Ciências Humanas (Universidade de Paris-7, França), 1983 e Doutor em Etnologia (Universidade de Paris–7, França), 1979, Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Morou e trabalhou na Europa por quinze anos (França), na África por oito anos (Egito, Nigéria e Senegal), no Caribe por dezoito (Trinidad-Tobago, Guadalupe, Martinica), e viajou intensamente pelo sudeste da Ásia (Filipinas, Austrália, Ilhas Fidji, Papua Nova Guiné, Indonésia) em projetos de pesquisa, tendo agora fixado residência permanente no Brasil, na cidade de Salvador. 

É autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais. Tem os seguintes livros publicados: PICHÓN. Race & Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 2009); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); Fela. This Bitch of a Life (Abuja: Cassava Republic Press, 2010; London: Omnibus Press, 2010; Chicago: Lawrence Hill Books, 2009; London: Allison e Busby, 1982); Fela. Cette Putain de Vie (Paris: Khartala, 1982); Were Marx and Engels Racists? (Chicago: IPE, 1972).

No Brasil, o escritor já publicou os livros Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2008); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2011; 2008); O Marxismo e a Questão Racial (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2010). Moore é também conferencista em universidades dos Estados Unidos, América Latina e do Caribe. E' Chefe de Pesquisa Sênior (Honorário) na Escola para Estudos de Pós Graduação e Pesquisa, na Universidade do Caribe (UWI), Kingston, Jamaica. 

Na Itália a obra de Carlos Moore saiu em 2012, com título “Fela. Questa bastarda di una vita”(ed. Arcana-Collana Biografie-390 p.), com prefácio de Gilberto Gil , pos-fácio de Maurizio Zanda e tradução de Marco Zanotti.

Para o jazzísta sul-africano Hugh Masekela - uma das principais referências do afro-jazz no mundo - “Fela teria sido um verdadeiro gênio da musica mundial contemporânea na medida em que ele inventou todo um gênero musical por si só”.



















UM GRANDE ESPETÁCULO ÉPICO GRATUITO: “A PAIXÃO DE CRISTO” NO FAROL DA BARRA
Por Antonella Rita Roscilli


Nesta semana santa no charmoso Farol da Barra, um dos mais famosos cartões postais de Salvador, o público tem o privilegio de assistir ao grande espetáculo teatral A Paixão de Cristo, a partir do dia 1 de abril e até dia 5 de abril, sempre às 18h30. Os ingressos devem ser trocados por 2kg de alimentos não perecíveis, o que garante ao expectador um assento reservado, já que toda a área em frente ao Farol da Barra estará cercada e arrumada com 5 mil poltronas. Com um conceituado elenco de 80 atores, a empreitada cênica conta com uma produção repleta de efeitos especiais e texto nos evangelhos. E’ narrada a vida e a obra de Jesus, desde o nascimento até a sua ressurreição, na maior e mais conhecida história de todos os tempos. Entre os muitos efeitos especiais da encenação estão o vôo do arcanjo Gabriel, a levitação de Lázaro, a travessia do oceano, os animais em cena e a ascensão de Cristo “Nossa proposta artística é a da realização de uma linguagem de teatro clássico e popular. Essa é a forma adequada para apresentar para o público atual a celebração da histórica Paixão de Cristo, que é a mais permanente e profunda entre todas as tradições culturais do mundo ocidental”, afirma o diretor Paulo Dourado, que tem vasta experiência em conduzir espetáculos para grandes platéias, entre eles destacamos A Conspiração dos Alfaiates, Canudos – A Guerra do Sem-Fim, Rei Brasil – Uma Ópera Popular e Búzios: A Conspiração dos Alfaiates. Destacamos que a encenação da Paixão de Cristo de 2011 e 2012 levou na Concha Acústica do TCA mais de 40.000 pessoas de todas as idades e classes sociais, além de promover a arrecadação de aproximadamente trinta toneladas de alimentos. O espetáculo acontece dentro da programação do Festival Artes do Sagrado, uma belíssima iniciativa na cidade de Salvador que envolve, além da encenação de “A Paixão de Cristo”, concertos, visitação aos acervos de Arte Sacra em museus, igrejas, eventos todos gratuitos, uma interessante palestra de Frei Betto e um show fantástico de Jaques Morelenbaum com seu Cello Samba Trio e, ainda, visita de monumentos, feira, gastronomia etc. Tudo isso està acontecendo na cidade inteira, incluindo centro e bairros periféricos.








"NISE DA SILVEIRA-GUERREIRA DA PAZ" DE DANIEL LOBO NO TEATRO JORGE AMADO DE 4 A 6 DE SETEMBRO 2014
 por Antonella Rita Roscilli


Daniel Lobo | Foto: Ronny Higashi

O espetáculo NISE DA SILVEIRA - GUERREIRA DA PAZ, com dramaturgia, direção e interpretação de Daniel Lobo, chega no estado da Bahia e faz sua estréia nacional no dia 4 de setembro de 2014 em Salvador, no Teatro Jorge Amado, onde permanece até o dia 6 de setembro. Premiado em São Paulo como um dos melhores espetáculos da temporada, è uma apresentação multimídia que completa o projeto "Trilogia do Inconsciente". 

Através de teatro, música, vídeo e dança, o público vai conhecer uma das mulheres mais importantes do século XX, precursora de métodos alternativos de tratamento psiquiátrico, e que evolucionou a psiquiatria através da arte, de um processo mais humanitário de cura. Nise da Silveira nasceu no Nordeste, em Maceió (Alagoas), em1905 e morreu no Rio de Janeiro em 1999. Foi discípula de Carl Gustav Jung, cursou a Faculdade de Medicina da Bahia, onde formou-se como a única mulher entre os 157 homens da turma. Está entre as primeiras mulheres no Brasil a se formar em Medicina. 

Dedicou toda sua vida à psiquiatria. Manifestou-se radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento de sua época. Revolucionou a medicina tradicional ao tornar a psiquiatria mais humanista, criando ateliês de artes dentro dos manicômios. A partir destes trabalhos artísticos Nise iniciou um estudo profundo das expressões simbólicas das pinturas para penetrar no universo do inconsciente de cada um deles. E conseguiu levar as obras dos pacientes para fora dos hospitais chegando a levá-las em São Paulo e Paris. Nela, por exemplo, se inspirou na Itália Claudio Costa, quando criou em Genova o "Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli", hoje em dia chamado "Museattivo Claudio Costa". 

Em cena, a própria Nise è interpretada pelo ator Daniel Lobo (Prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte e Prêmio Mambembe/Ministério da Cultura, entre outros), também idealizador do projeto original. Com "Nise" ele celebra 30 anos de carreira artística. Entre trabalhos realizados no cinema e televisão, lembramos que Daniel participou da novela "Esperança" e fez participação como ultimo Pedrinho no Sitio do Picapau Amarelo, na década de 1980. 

“Quando decidi me desafiar, pensei: vou brincar de ser Nise, vou rir de mim mesmo. Por isso tudo começa com esse tom cômico, para que a platéia vá se ambientando com tudo. Eu brinco com essa pergunta, de como assim, um homem interpretando Nise. Depois mergulho na história" revela. A apresentação junta poesia, sagrado, onírico, loucura. Recria momentos importantes da vida da médica, como a chegada ao Rio de Janeiro, na década de '20, a amizade com Manuel Bandeira, a prisão no governo Getúlio Vargas, a relação com Jung até o encontro de Nise com os indios antes dela morrer, em 1999, com 94 anos. Daniel cruza e compartilha universos que foram íntimos a Nise, como a obra de Artaud, a importância da mandala, do xamanismo e da mitologia para o 'inconsciente coletivo' de Jung. 

A peça NISE DA SILVEIRA - GUERREIRA DA PAZ representa também um encontro inédito de alguns dos mais importantes artistas do Brasil. A primeira bailarina Ana Botafogo faz a sua estréia em teatro assinando as coreografias. A trilha sonora original é de João Carlos Assis Brasil, um dos maiores pianistas brasileiros, com a criativa percussão de Marco Lobo. As projeções multimídia tem participações especiais do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar e do teatrólogo José Celso Martinez Corrêa. Conta na direção com a preciosa parceria de Ciliane Bedin. As encenações que originaram a trilogia foram um fenômeno de público elogiado pela crítica em mais de 200 apresentações e o projeto foi consagrado em São Paulo em 2012 como um dos melhores espetáculos em votação popular do I Prêmio Aplauso Brasil.














A PEÇA TEATRAL BAIANA "O SAPATO DO MEU TIO" CHEGA NA ESCOCIA
por Antonella Rita Roscilli


A peça teatral baiana "O Sapato do Meu Tio", chega de novo na Europa. Com titulo "My Uncle's Shoes", estreia na Escocia, no prestigioso Festival Fringe de Edinburgh (5-24 de agosto), no Theater Majestic. Depois do Festival de Avignon Off em julho, depois de viajar em mais de 50 cidades de norte a sul do Brasil e ter participado de diversos festivais no Chile, Guiana Francesa, Republica Dominicana e Espanha, neste ano de 2014 està sendo aplaudida muito no verão europeu.

Celebrando nove anos em cartaz, o espetáculo já tem um currículo considerável de apresentações tendo sido visto por mais de 80 mil pessoas em mais de 300 apresentações. "O Sapato do Meu Tio" narra de forma humorada e sensível a convivência de um artista, um palhaço e seu aprendiz, sobrinho dele. Sobre uma carroça, os dois viajam de cidade em cidade. De início o sobrinho é um mero puxador de carroça, subserviente e resignado de sua condição de servo de um grande artista.

O Tio ensina sua arte para o sobrinho, revelando uma relação de poucas palavras, mas cheia de respeito, humor e, sobretudo, poesia. Entre sucessos e fracassos, os personagens apresentam uma verdadeira homenagem ao ofício do palhaço, onde temas como a passagem do tempo e a aprendizagem são explorados ora através do drama, ora da comédia. Com o tempo, o aprendizado se faz em via dupla: juntamente com as técnicas e o apuro artístico, o sobrinho aprende de seu tio a vaidade e o tio toma consciência do valor da humildade do mais novo. Alternam-se momentos de angústia, dor, alegria, tristeza, riso e lágrimas. Trata-se de uma homenagem ao ofício do palhaço e não só.

Com texto e atuação de Alexandre Luis Casali e Lúcio Tranchesi, direção de João Lima, direção musical e trilha sonora original de Jarbas Bittencour, a peça è produzida por Selma Santos (uma das produtoras mais criativas e de qualidade de Salvador, Bahia) que è também idealizadora do Festival Internacional de Artistas de Rua que chegou neste ano à sua décima edição ( http://www.selmasantos.com.br/) .

O diretor João Lima afirma: "Se alguém me perguntasse de que matéria é feito O Sapato do Meu Tio, não saberia responder. Os sapatos são feitos geralmente de couro de um animal, antes esticado e posto no curtume, para o nosso conforto. Mas este espetáculo fala de pedras que ficam no sapato, incomodando. A fome, a convivência, o domínio da técnica, a recepção do público, a luta pela sobrevivência, a vontade de se superar e superar o outro, uma carroça, um par de sapatos, um palhaço e seu sobrinho-ajudante-querendo-também-ser-palhaço, o mestre-aprendiz e o aprendiz-mestre." A peça pode ser metáfora da Vida, que na cena se materializa no andar constante da carroça e na continuidade cíclica do Tempo; o sapato pode representar o conhecimento que se perpetuará. Assistir a esta peça vale a pena e è uma verdadeira experiência dentro e fora de si mesmo. "O Sapato do Meu Tio" consegue levar o público do muito riso às lágrimas, deixando-o refletir sobre a transitoriedade da vida, a solidariedade, o respeito mútuo, o aprendizado e o crescimento do ser humano. E agora iremos ver a recepção do publico inglês e escocês: com uma temática universal como esta, tão bem interpretada pelos dois atores, será fácil se emocionar!





Carolina Maria de Jesus: a escritora que definia a favela como quarto de despejo
por Antonella Rita Roscilli


Carolina Maria de Jesus (1914-1977) è uma das mais importantes escritoras negras do Brasil e neste ano se comemora o centenário dela. Uma mulher brasileira, afrodescendente, pobre, e com o dom, o amor pela escrita e não sò, hoje em dia vem sendo estudada em varias partes do mundo. 

Carolina escreveu relatos e diários revelando, através de sua escritura, a importância do testemunho, como meio de denúncia, da desigualdade social e do preconceito racial. Demonstrava uma grande lucidez critica, escrevia em primeira pessoa e vivendo a dura condição de favelada: “Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.” Relatos como este foram descobertos no final da década de 1950 nos diários da escritora. Nasceu 14 de Março de 1914 em Sacramento -MG, cidade onde viveu sua infância e adolescência. 

De família pobre, composta por mais sete irmãos, começou a trabalhar muito cedo. Seus pais, provavelmente, migraram do Desemboque para Sacramento quando houve mudança da economia da extração de ouro para as atividades agropecuárias. Estudou em um colégio espírita, que tinha um trabalho voltado às crianças pobres da cidade, através da ajuda de pessoas influentes. 

Carolina estudou pouco mais de dois anos. Toda sua educação formal na leitura e escrita é com base neste pouco tempo de estudos. Mudou-se para a capital paulista em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, conheceu Carolina e se interessou pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publicou um artigo na Folha da Noite. Em 1959, trabalhando na revista "O Cruzeiro", o jornalista divulgou trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente, empenhou-se na publicação que reúniu esses relatos que deram origem ao livro "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", publicado em 1960. 

Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países. Essa obra resgata e denuncía a realidade da favela do Canindé, em São Paulo, no início da "modernização" da cidade e do surgimento constante das periferias. Realidade cruel e perversa, até então pouco conhecida. Essa literatura documentária, pela narrativa feminina, em contestação, tal como foi conhecida e nomeada pelo jornalismo de denúncia dos anos 50-60, é considerada uma obra atual, pois a temática mostra problemas existentes até hoje nas grandes cidades do Brasil. Depois de ter publicado este livro, Carolina mudou-se para uma casa que conseguiu comprar no bairro de Santana onde continuava mantendo o diário com registros do que lhe acontecia ali, depois editados em "Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada", em 1961. 

Em 1963, publicou "Pedaços da Fome", seu único romance, que teve pouca repercussão. Em função dos contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, mudou-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde foi praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas de voltar à cena literária. Por não agradar a elite financeira e política da época com seus discursos, Carolina acabou caindo no ostracismo e viveu de forma bem humilde até os momentos finais de sua vida. Foi mãe de três filhos e faleceu em 13 de Fevereiro de 1977, com 62 anos. Após sua morte, foram editadas obras escritas entre 1963 a 1977, das quais a mais significativa é "Diário de Bitita", com suas memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França. Carolina foi também cantora sambista. "Quarto de Despejo" inspirou diversas expressões artísticas como a letra do samba "Quarto de Despejo" de B. Lobo; o texto em debate no livro "Eu te arrespondo Carolina" de Herculano Neves; como a adaptação teatral de Edy Lima; como o filme realizada pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista do filme "Despertar de um sonho" (ainda inédito no Brasil); e, finalmente, a adaptação para a série "Caso Verdade" da Rede Globo de Televisão em 1983. A obra de Carolina Maria de Jesus é um referencial importante para os estudos culturais e literários, è um grande exemplo de resistência, inteligência e capacidade. Bibliografia : Quarto de Despejo 1960 Casa de Alvenaria 1961 Pedaços de Fome 1963 Provérbios 1963 Diário de Bitita 1982 (Póstumo). 
















HOMENAGEM PARA JACINTA PASSOS
Por Antonella Rita Roscilli



No dia 30 de novembro de 2014 serà o Centenário da poeta baiana Jacinta Passos (1914-1973),uma mulher que ousou desafiar abertamente consensos e preconceitos, através da sua obra poética e jornalistica. Foi a mais expressiva voz poética feminina da esquerda brasileira no combate ao nazifascismo e para os direitos da mulher. 

Jacinta nasceu em 30 novembro de 1914 na fazenda Campo Limpo, município de Cruz das Almas na região do Recôncavo da Bahia. Era filha de Berila Eloy e Manuel Caetano da Rocha Passos, pertencentes a famílias tradicionais da região, muito católicas. Passou a infância entre o núcleo urbano de Cruz das Almas e a fazenda Campo Limpo, de propriedade do pai, mergulhada na cultura do fumo, das tradições africanas e das canções infantis que marcariam sua poesia. 

Após a transferência da família para Salvador, cursou a Escola Normal, onde se formou. Trabalhou como professora de matemática, dando aulas particulares. Nessa época, era muito religiosa e buscava uma união profunda e direta com Deus. Desde o final da década de 1920 escrevia poemas, em geral de conteúdo religioso. 

Nos anos 30, ao lado do irmão, o estudante de medicina e também poeta Manoel Caetano Filho, começou a participar de círculos e grupos literários de Salvador, como a Ala das Letras e das Artes (ALA), chefiada pelo crítico Carlos Chiacchio. 

Seus poemas começaram a circular entre os intelectuais da cidade. Jacinta continuava religiosa, mas, à medida que o tempo passava, sua religiosidade ia adquirindo conteúdo social e militante. A partir da Segunda Guerra Mundial, em 1939, envolveu-se fortemente com política. Ao lado do irmão participou de movimentos a favor da paz mundial e do final da ditadura do Estado Novo. 

Denunciou as opressões que pesavam sobre as mulheres, defendendo mudanças na condição feminina. Após a entrada do Brasil na guerra, em 1942, participou intensamente da luta antinazista e antifascista.Tornou-se também uma ativa jornalista, escrevendo sobre temáticas sobretudo sociais. Na época foi uma das poucas mulheres da Bahia a assumir posições políticas públicas, e publicava artigos e poesias na revista cultural Seiva e no jornal O Imparcial . Nesse jornal se ocupava da “Página Feminina” onde introduziu discussões políticas e literárias. Em 1942 publicou, juntamente com seu irmão, seu primeiro livro de poesias: Nossos poemas. No livro a sua produção corresponde à primeira parte, intitulada Momentos de poesia, com 38 poemas. O volume mereceu boas críticas na imprensa, firmando os nomes dos dois poetas no meio intelectual baiano. Embora neste livro a autora ainda traga traços marcantes de religiosidade, como no poema "Agonia no Horto", outros temas começaram a surgir. Tornou-se amiga de intelectuais comunistas, como Jorge Amado, que no final de 1942 retornara à Bahia, aprofundando a participação em movimentos sociais e feministas. 

Nessa época, abandonou o catolicismo. Mudou-se em 1944 para São Paulo, onde se casou com o jornalista e escritor James Amado. No ano seguinte, publicou seu segundo livro, Canção da Partida (São Paulo, Edições Gaveta), contendo dezoito poemas, três transcritos do livro anterior. A edição, extremamente bem cuidada, foi de apenas duzentos exemplares, numerados e assinados pela autora e ilustrados pelo artista Lasar Segall. Canção da Partida recebeu críticas muito elogiosas de intelectuais expressivos como Aníbal Machado, Antonio Candido, Gabriela Mistral, José Geraldo Vieira, Mário de Andrade, Roger Bastide e Sérgio Milliet, firmando o nome da poeta no cenário nacional. 

Os poemas da Canção da Partida eram o espelho da consciência eminentemente social de uma época a que a resistência antifascista e as agruras da guerra haviam ensinado o sentido prático da solidariedade. E Jacinta lutou pelo final da guerra, pela redemocratização do Brasil, pela liberdade de expressão, pela anistia aos presos políticos e pela ampliação dos direitos das mulheres. É o generalizado sentimento de solidariedade dessa época, o seu sonho de um mundo unido que se reflete na Canção da Partida. Esta importante obra foi esquecida e republicada no Brasil somente em 1990, pela Fundação das Artes, graças ao empenho do poeta e jornalista baiano Florisvaldo Mattos, que era presidente da Fundação Cultural no governo Waldir Pires.

                                         

Em 1945, ano em que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi legalizado e lançou uma grande campanha de filiação de novos membros, Jacinta Passos ingressou oficialmente, nele permanecendo até morrer. De volta a Salvador, foi candidata a deputada federal e a deputada estadual pelo PCB, não se elegendo. Contribuiu para o jornal O Momento e continuou participando ativamente da política. Em 1947, após uma gravidez muito difícil, deu à luz Janaina, sua filha única. Com o marido e a filha, viveu alguns anos em uma fazenda no sul da Bahia, onde se dedicou à família e à escrita.

Mudou-se em 1951, com a família, para o Rio de Janeiro, onde lançou seu terceiro livro, Poemas políticos (Rio de Janeiro, Livraria-Editora da Casa do Estudante do Brasil). Contendo dez poemas inéditos, políticos e líricos, além de uma seleção de poesias anteriores, Poemas políticos ampliou o prestígio da escritora, tornando-a mais conhecida nos círculos literários do Rio de Janeiro, a capital do país.

Em 1955, separada do marido e da filha, regressou a Salvador, voltando a residir com os pais. Continuou militando no PCB, ensinou em comunidades pobres de Salvador e publicou artigos sobre literatura no jornal comunista O Momento, onde, durante alguns meses, foi também responsável por uma página literária. Continuou escrevendo poesias. Recebeu a visita da filha durante as férias escolares e a visitou, no Rio de Janeiro. Jacinta publicou em 1957 seu quarto livro, A Coluna (Rio de Janeiro, A. Coelho Branco Fº Editor). O volume contém um longo poema épico, de quinze cantos, sobre a Coluna Prestes, marcha de cerca de vinte e cinco mil quilômetros, empreendida na década de 1920, e liderada, entre outros, por Luiz Carlos Prestes, que buscava mudanças políticas profundas para o Brasil. O livro foi bem recebido por críticos como Paulo Dantas. 

No final desse ano Jacinta sofreu grave crise nervosa e ficou vários meses internada em sanatórios do Rio, onde foi diagnosticada como portadora de esquizofrenia paranóide, considerada então uma doença progressiva e irrecuperável. Transferiu-se em 1962 para Aracaju, em Sergipe. Ali morou, sozinha, em Barra dos Coqueiros, povoação de pescadores situada em frente à cidade. Alì desenvolveu, sozinha, intensa militância junto a pescadores, estudantes e trabalhadores, inclusive após o golpe militar de 1964. Veio a falecer em Sergipe em 28 de fevereiro de 1973, aos cinqüenta e sete anos de idade.

Em 2010 saiu o livro "Jacinta Passos, Coração Militante. Poesia, Prosa, Biografia, Fortuna Crítica", (Ed. Edufba; Corrupio, 580 páginas), organizado por Janaina Amado e que traz a obra completa de Jacinta, grande mulher, poeta, professora, jornalista, corajosa militante política. 

"O rio Tantos rios como eu abriram leito de pedras e pranto. 
Um dia perguntávamos: – Dizei-me, curva, onde vou? 
casa trono rocha sois aqueles que ficam, minha lei é não parar. 
Sigo fio de água, água humilde sou, para onde? 
Ó curva, falai. 
Água de revolta, espuma e ódio nos poros na garganta no útero, 
pranto de mulher, água de fel antigo, quem é meu semelhante?
Dizei, onde vou? Leito de pedras e pranto. Súbito, próximo, 
Atravessou, olhai, ele! ali na frente, vivo, tão vivo, ele sim! o rio das águas inúmeras. 
Correi doçuras e dores, punhos, Partido, esperança nossa..."

Do livro Poemas políticos, Jacinta Passos. Rio de Janeiro: Livraria-Editora Casa do Estudante do Brasil, 1951














O livro "Dorival Caymmi: o Mar e o Tempo" de Stella Caymmi por Antonella Rita Roscilli


Na próxima quarta feira, dia 14 de maio de 2014, em Salvador será lançada a nova edição da biografia Dorival Caymmi – O Mar e O Tempo, de Stella Caymmi, comemorativa aos 100 anos do compositor, nascido em 30 de abril de 1914.

O evento terá início às 18h, na Livraria Saraiva Salvador Shopping e seguirá com sessão de autógrafos da autora. Entrada gratuita. Esta è a mais completa biografia de Dorival Caymmi (1914-2008), um dos principais nomes da música brasileira, escrita pela neta de Dorival, Stella Caymmi, jornalista, biógrafa, escritora e Doutora em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, onde leciona. Fruto de dez anos de minuciosa pesquisa, com mais de trezentas imagens, a obra vem agora em formato mais acessível, além de revista e atualizada, com fotos mais recentes do compositor e um novo posfácio de Stella relatando os últimos anos dele. Figura seminal da cultura brasileira, Dorival Caymmi integrou as principais fases da história da música brasileira: a Era de Ouro do rádio, nos anos 1930 e 40; o samba-canção e o advento da TV, na década de 50; a bossa nova, a partir de 1958; e a moderna MPB.

Este volume acompanha passo a passo a trajetória de Dorival, desde as raízes da família na Itália, a infância em Salvador e a mudança do jovem compositor para o Rio de Janeiro, em abril de 1938. Nesta cidade, Caymmi logo atingiu a fama, quando seu samba “O Que É Que a Baiana Tem?” foi incluído no filme "Banana da Terra", e interpretado por Carmen Miranda. Nascia ali um dos grandes nomes da música brasileira, que soube aliar as qualidades de compositor às de intérprete, com sua voz grave e doce acompanhada ao violão. No centenário do baiano, vale lembrar os versos do admirador Chico Buarque: “Contra fel, moléstia, crime/ use Dorival Caymmi”.

A autora desta imensa obra literária, Stella Caymmi, nasceu em Caracas, Venezuela, e vive no Rio de Janeiro desde os 3 anos de idade. Há mais de duas décadas trabalha na área cultural com artigos e ensaios publicados na imprensa e no meio acadêmico, além de participação em Congressos e Colóquios. Além deste livro que foi selecionado como finalista do Prêmio Jabuti na categoria ‘Biografia – Reportagens’, publicou "Caymmi e a Bossa Nova", pela Editora Ibis Libris, em 2008, e “O Que é Que a Baiana Tem? – Dorival Caymmi na Era do Rádio”, lançado em 2013, pela Editora Civilização Brasileira (Grupo Record), celebrando a abertura do Centenário de Dorival Caymmi e os 90 anos do rádio no Brasil.

Stella Caymmi
"Dorival Caymmi: o mar e o tempo" de Stella Caymmi Prefácio de Jairo Severiano Orelha de Tárik de Souza Coleção Todos os Cantos 616 páginas | 16 x 23 cm | ISBN 978-85-7326-554-5 | 1ª edição - 2014| R$ 76,00














UM GRANDE ESPETÁCULO ÉPICO GRATUITO: “A PAIXÃO DE CRISTO” NO FAROL DA BARRA Por Antonella Rita Roscilli
Nesta semana santa no charmoso Farol da Barra, um dos mais famosos cartões postais de Salvador, o público tem o privilegio de assistir ao grande espetáculo teatral A Paixão de Cristo, a partir do dia 1 de abril e até dia 5 de abril, sempre às 18h30. Os ingressos devem ser trocados por 2kg de alimentos não perecíveis, o que garante ao expectador um assento reservado, já que toda a área em frente ao Farol da Barra estará cercada e arrumada com 5 mil poltronas. Com um conceituado elenco de 80 atores, a empreitada cênica conta com uma produção repleta de efeitos especiais e texto nos evangelhos. E’ narrada a vida e a obra de Jesus, desde o nascimento até a sua ressurreição, na maior e mais conhecida história de todos os tempos. Entre os muitos efeitos especiais da encenação estão o vôo do arcanjo Gabriel, a levitação de Lázaro, a travessia do oceano, os animais em cena e a ascensão de Cristo “Nossa proposta artística é a da realização de uma linguagem de teatro clássico e popular. Essa é a forma adequada para apresentar para o público atual a celebração da histórica Paixão de Cristo, que é a mais permanente e profunda entre todas as tradições culturais do mundo ocidental”, afirma o diretor Paulo Dourado, que tem vasta experiência em conduzir espetáculos para grandes platéias, entre eles destacamos A Conspiração dos Alfaiates, Canudos – A Guerra do Sem-Fim, Rei Brasil – Uma Ópera Popular e Búzios: A Conspiração dos Alfaiates. Destacamos que a encenação da Paixão de Cristo de 2011 e 2012 levou na Concha Acústica do TCA mais de 40.000 pessoas de todas as idades e classes sociais, além de promover a arrecadação de aproximadamente trinta toneladas de alimentos. O espetáculo acontece dentro da programação do Festival Artes do Sagrado, uma belíssima iniciativa na cidade de Salvador que envolve, além da encenação de “A Paixão de Cristo”, concertos, visitação aos acervos de Arte Sacra em museus, igrejas, eventos todos gratuitos, uma interessante palestra de Frei Betto e um show fantástico de Jaques Morelenbaum com seu Cello Samba Trio e, ainda, visita de monumentos, feira, gastronomia etc. Tudo isso està acontecendo na cidade inteira, incluindo centro e bairros periféricos.


ANTONELLA RITA ROSCILLI DIRETO DA ITÁLIA COM A COLUNA LIVROS E OLHARES PARA O VENTILANDO EM SALVADOR NA BAHIA.

Os assuntos: Resenhas e dicas sobre a Literatura baiana (ficção, critica e poesia) e olhares aqui e além do oceano sobre vários assuntos da cultura, musica e arte.

Antonella Rita Roscilli è jornalista, brasilianista, escritora e tradutora italiana. Diretora de "Sarapegbe" (www.sarapegbe.net), revista italiana sobre Cultura e Sociedade do Brasil, África e Outros Mosaicos. E biografa de Zélia Gattai, memorialista de origens italianas e esposa de Jorge Amado. Membro correspondente da ABL, do IGHB e idealizadora de documentários.

Um comentário:

  1. Como Tudo que Antonella fas é bem feito, por coinsidensia conheci Corolina Maria de Jesus, pois em 1966 comprei uma chacara em Parelheiro mesmo bairro onde ela foi morar nunca nos falamos mas minhas filhas foram colegas das suas filhas no primeiro grau gostei de tudo que aqui foi dito e contado parabens AUGURIO AMIC'CI mia.

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